segunda-feira, 26 de maio de 2008

Pedro Paixão

MULHERES INSTÁVEIS
por Pedro Paixão

Era a minha última noite na cidade. Combinei encontrar-me às sete e meia com um quase amigo no Nobu, um restaurante na moda. Cheguei à hora exacta. O meu quase amigo estava à porta. Disse: espero que não te importes mas vêm mais algumas pessoas, hás-de gostar de alguma delas. E sorriu. Eu não me importava nada. Sentaram-me num lugar. Havia barulho a mais. Vozes a falar umas sobre as outras de mistura com ruídos metálicos. Estava derreado. Uma semana de excessivo calor e oitenta e cinco por cento de humidade. Um trabalho de que nunca mais via o fim. A mesa era rectangular, comprida. Não conhecia ninguém a não ser o meu quase amigo que ficara à cabeceira. À minha frente uma mulher nitidamente mais velha do que a média dos restantes. Como eu. À minha esquerda uma outra mulher, que não podia olhar na cara, com um vestido lilás, talvez de seda, sem mangas. Para falar tem de se começar a falar. Em geral é pelo mesmo. Há uma urgência em saber o nome e a ocupação porque se tem pavor do indefinido. Como se se ficasse a saber alguma coisa. A senhora sentada à minha frente perguntou: o que faz com as horas e os dias? Disse: sou fotógrafo. Que tipo de fotografias? Disse: pornografia. (...)

Este conto continua na edição impressa do número 26 da Revista 365.

Pedro Paixão nasceu em Lisboa, em 1956. É escritor. O seu livro mais recente chama-se Rosa Vermelha em Quarto Escuro e foi publicado pela Bertrand.


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