segunda-feira, 2 de junho de 2008

Mário Bruno Pastor

PONTO DE FUGA
por Mário Bruno Pastor

Emília voltou a colocar os óculos, fitou de novo o relógio, apertou as mãos e levantou-se lentamente. O chefe de estação sorriu-lhe, mas ela, como sempre, desprezou-lhe a cumplicidade. No caminho de volta, agarrada à grande bolsa de renda, notou que as fraldas do vestido e as mangas do casaco de peles estavam rompidas e um pouco sujas. Por um lado tinha sido melhor ele não ter regressado hoje, teria que estar com outro aspecto para o receber, precisava de um vestido limpo e mais resplandecente. Levou as mãos à cabeça e firmou melhor o alfinete do chapéu. Ao fundo da rua, tenuamente iluminado pelo candeeiro eléctrico, um homem de sobretudo, acompanhado por uma rapariga, caminhava falador. Seria Gustav? Emília estremeceu, rebuscou a bolsa e retirou os óculos, aproximou-os dos olhos. Não, era apenas um homem e Gustav voltaria no verão. (...)

Este conto continua na edição impressa do número 26 da Revista 365.

Mário Bruno Pastor nasceu no Porto em 1976. Padece de bissextismo e custa-lhe a aceitar que existam calendários para os anos vindouros. A par disso tem publicado poesia em edições literárias colectivas.

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