terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Camilo Castelo Branco

MANIA E HIPOCONDRIA
por Camilo Castelo Branco

Certo maníaco imaginava que tinha morrido, e rogava aos parente e amigos que o enterrassem, porque o seu corpo começava a apodrecer. Três vezes, dentro de um ano, o atacou semelhante mania. Amortalharam-no e fingiram que o levavam ao cemitério; porém, no caminho, estavam uns homens pactuados com os parentes à espera do saimento; e, quando a tumba ia passando, começaram a dizer em voz alta:
– Ora, graças a Deus, que morreu finalmente aquele velhaco, aquele biltre, aquele perversíssimo celerado!
O maníaco, ouvindo os insultos, irou-se grandemente, e respondeu:
– Canalhões! se eu estivesse vivo, castigar-vos-ia a bengaladas, para vos ensinar a não ter má-língua; infelizmente estou morto; e os mortos não se vingam.

Este conto continua na edição impressa do número 31 da Revista 365, ou pode ser descarregado em pdf a partir do nosso site.

Camilo Castelo Branco viveu entre 1825 e 1890. Tem uma obra vastíssima e é um dos mais importantes escritores da língua portuguesa. Já anteriormente havíamos publicado nesta revista o texto «Maria! Não Me Mates, Que Sou Tua Mãe!».

A ilustração deste conto é de Alex Gozblau.

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