terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Pedro Miguel

ANOTHER ONE BITES THE DUST
por Pedro Miguel

J'ai faim! Merde, j'ai faim! Era com esta lembrança de um filme francês, ou pelo menos a sentir uma convicção parecida com a de alguém num cenário amarelo torrado, em mangas de camisa, perigosamente ao pé da salamandra, (o que não acontecia no filme, mas também não importava porque como já foi referido, era mais uma convicção parecida, que outra coisa) com a barba por fazer, com a devida consequência de lhe causar comichão, que Elliot se debatia à uma da manhã numa noite de Inverno (Novembro… pode ser?) de segunda para terça. Deixar o conforto do lar para ir buscar alimento era algo que o incomodava muito, mesmo fazendo o esforço para se sentir pré-histórico e encarar aquilo como uma aventura.

Este conto continua na edição impressa do número 28 da Revista 365.

Pedro Miguel nasceu em Viseu, há 33 anos. Escreve. Certas noites, independentemente da fase da lua, transforma-se no dj Schmeichael e mete música. Tem este blogue.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Daniel Galera

TIROTEIO
por Daniel Galera

Eu tava no bar do Zé comendo uma coxinha de galinha e tomando uma cerveja, nada que eu já não tivesse feito antes. Havia, como de praxe, meia dúzia de pescadores bêbados atirados pelas mesas, uns rindo da cara dos outros, outros jogando dominó, um último cambaleando entre duas mesas de sinuca, coçando o rosto inchado. E meio que do meu lado, a pouco mais de um metro, um outro pescador, maior que todos os outros, mais feio que todos os outros, sacudindo graciosamente um carrinho de bebê dentro do qual havia um bebê. O carrinho era novo, o bebê era branquinho, limpo, sorridente e silencioso. Eu já tinha visto muita coisa estranha no bar do Zé pra me espantar com um carrinho de bebê com um bebê dentro, no meio daquele boteco escuro, velho, ocupado exclusivamente por homens rudes, grotescos, a maioria miseráveis, todos bêbados. Continuei mastigando minha coxinha. Mas a presença do bebê começou, finalmente, a me causar uma certa estranheza, e eu tirei os olhos do balcão para encarar aquele pequeno ser nos olhos.

Este conto continua na edição impressa do número 28 da Revista 365.

Daniel Galera nasceu em São Paulo, em 1979. É escritor e tradutor. Tem publicado em Portugal o romance «Mãos de Cavalo» (Caminho, 2008). É também autor de «Até o dia em que o cão morreu» (Livros do Mal, 2003, e Companhia das Letras, 2007 – posteriormente adaptado ao cinema com o nome «Cão sem dono» e realizado por Beto Brant e Renato Ciasca) e «Cordilheira» (Companhia das Letras, 2008), além do volume de contos «Dentes Guardados» (Livros do Mal, 2001), de onde retirámos «Tiroteio» («Dentes Guardados» está disponível em linha, através do sítio do autor).



Mãos de Cavalo (Caminho, 2008)



Cordilheira (Companhia das Letras, 2008)

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Mário Bruno Pastor

O CAMINHO PARA WEIMAR
por Mário Bruno Pastor

Tínhamos perdido. Ao fundo, roncando aos solavancos, afastava-se o comboio lento. Estava macerado pela exposição solar de quase quatro anos sem restauro. Dentro dos vagões, amontoados uns sobre os outros, ombros caídos, os últimos camaradas sobreviventes que tinham conseguido embarcar em Sedan fitavam o cais de embarque. Ninguém nos acenava, não havia sorrisos e Eric, a meu lado, ressentido pelo atraso e pela indiferença dos que partiam, dizia-se transparente.

Era inútil esperar por um novo transporte. Aquele tinha sido o último comboio a partir para leste, daqui em diante as fronteiras seriam reentregues às autoridades francesas, e estas iriam fechá-las para sempre. O melhor seria caminhar. Mesmo tendo que percorrer os quase 500 quilómetros que nos separavam de Weimar, ainda havia tempo para chegar a casa antes do Natal.

Este conto continua na edição impressa do número 28 da Revista 365.

Mário Bruno Pastor nasceu no Porto em 1976. Padece de bissextismo e custa-lhe a aceitar que existam calendários para os anos vindouros. A par disso tem publicado poesia em edições literárias colectivas.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Finalmente, o número 28


Textos de Alexandre Andrade, Ana Queiroz, Daniel Galera, Elizabete Patrícia Andrade, Izet Sarajilic, Luís Graça, Marcelo Moutinho, Mário Bruno Pastor, Miguel Marques, Pedro Miguel, Pedro Santo e Rui Manuel Amaral.

Postos de venda, na coluna da direita, bem como a informação para quem queira participar no próximo número.